segunda-feira, 19 de março de 2018

10 filmes importantes para o cinema nos últimos 20 anos

Dizem, atualmente, que 'nada se cria, tudo se copia'. Partindo do pressuposto da inspiração e da evolução, o mercado, não só o cinematográfico, investe em avanços tecnológicos, abraça tendências, inova na técnica de execução dos trabalhos e recicla elementos ideológicos do passado para modernizar ou contextualizar obras para o presente.
 
Assim, um ar de originalidade é criado para novos produtos e a roda continua girando. Exemplos disso são as modas retrôs/vintage, o resgate da cultura pop dos anos 80, adaptações de histórias de sucesso (cult ou clássicas), entre outros. Com isso, relaciono abaixo 10 filmes norte-americanos que tiveram alguma importância para a evolução da Sétima Arte nos últimos 20 anos:
 
Blade - O caçador de vampiros (1998): após "Batman & Robin" (1997) quase enterrar a ideia de levar as histórias em quadrinhos para as telas do cinema, "Blade - O Caçador de Vampiros" surgiu no ano seguinte para acalmar os ânimos e dar um novo pontapé nas adaptações cinematográficas originadas de HQs. Blade é um híbrido de homem e vampiro da editora Marvel. Ele possui todas as qualidades de ser um 'sanguessuga', como a força aumentada e sentidos aprimorados. No entanto, sofre pela sede de sangue que é controlada por uma substância injetável. O fato de poder conter o ponto fraco do vampirismo, o de ser imune a luz solar, por exemplo, o credencia a ser um justiceiro para caçar vampiros que subvertem a ordem da cidade onde vive. O longa, além de ser o primeiro protagonizado por um herói negro, foi bem recebido pelo público e consolidou a carreira de Wesley Snipes.
 
O Resgate do Soldado Ryan (1998): tecnicamente falando, é o melhor filme de guerra de todos os tempos. Vinte anos se passaram e o longa ainda é um exemplo de cinematografia a ser seguida, em especial, na implantação de realismo (câmera na mão e violência crua) nas cenas de guerra. A produção fala da missão de um grupo de soldados que é designado a encontrar e levar para casa o tal soldado Ryan, em plena Segunda Guerra Mundial. Um dos destaques é a sequência de abertura que mostra o fatídico 'Dia D', um dos momentos mais tensos, sanguinolentos e espetaculares da história do cinema. A direção de Steven Spielberg é primorosa e ele foi justamente oscarizado por seu trabalho.
 
Matrix (1999): revolucionou o cinema ao implantar novas tecnologias e ao misturar efeitos práticos e gráficos com eficácia. Filmes de ação e ficção existem antes e depois de "Matrix". Além disso, o conceito e a riqueza de sua narrativa, que costura diversos temas e gêneros (religiões, filosofias, mangás, kung fu, informática, cultura cyber punk, música eletrônica e ficção científica), servem de inspiração até hoje para as novas obras. Desde "Blade Runner - O Caçador de Androides" um longa não tinha tanto impacto e inovações como "Matrix". Novas técnicas de direção surgiram nessa produção dos irmãos, agora irmãs, Wachowski, como o efeito 'bullet time' que foi incansavelmente copiado. A repercussão foi estrondosa e o filme se tornou um fenômeno midiático que impulsionou inúmeras tendências. Na trama, Keanu Reeves vive um hacker que descobre que a realidade em que vive não passa de uma simulação de computador controlada por máquinas dotadas de inteligência artificial. O sucesso da produção rendeu mais duas sequências filmadas simultaneamente e lançadas nos cinemas em 2003 com intervalo de alguns meses, "Matrix Reloaded" e "Matrix Revolutions". Ambas, embora sejam inferiores ao original, também trouxeram alguma evolução como a cinematografia digital, que permitiu o aperfeiçoamento na execução de ângulos considerados impossíveis.
 
Gladiador (2000): uma das marcas de Hollywood no passado era a especialidade de fazer filmes de época, com cenários que representavam a Idade Média, o Feudalismo ou o Império Romano. Curiosamente, houve um hiato desse subgênero nos anos 80 e 90. A impressão é que esse tipo de produção estava saturada e o público desinteressado. Os poucos longas que mergulhavam em narrativas épicas não conseguiam se destacar. Tudo isso mudou quando surgiu "Gladiador", de Ridley Scott, que retomou o subgênero em uma realização moderna e empolgante sobre um general do exército romano que tem sua família morta por um príncipe corrupto que mata o pai para se tornar Imperador. Após quase ser morto, ele é resgatado por escravos e passa a se esconder sob a identidade de um gladiador. Depois de várias vitórias em arenas pequenas, ele consegue uma luta no Coliseu, onde terá a oportunidade de voltar à Roma e se vingar. Assim como "Matrix", filmes épicos existem antes e depois de "Gladiador", cuja técnica de direção e o trabalho estético caprichado serviram de inspiração para muitas outras produções posteriores.
 
X-Men - O filme (2000): se "Blade" demonstrou que adaptações de quadrinhos ainda eram uma boa fonte de inspirações para o cinema, "X-Men - O filme", dirigido por Brian Singer, foi o empurrão que faltava para os super-heróis e mutantes correrem soltos e se consolidarem dentro de Hollywood. O longa, que traz interessantes críticas sociais sobre a inclusão da diversidade no mundo moderno, foi a realização do sonho de diversos fãs sobre uma das super trupes mais populares das HQs da Marvel. Sucesso nas revistas e em séries animadas para a TV, "X-Men" também foi bem recebido nas bilheterias e isso impulsionou a criação de diversos outros produtos licenciados, além, é claro, de outras sequências cinematográficas sobre esses mutantes. Foram 10 filmes divididos em 3 trilogias e um, digamos, avulso ("Deadpool"). Uma delas é sobre o personagem mais popular da franquia, o Wolverine. E esse universo não para. Já estão previstos mais 3 longas derivados para 2018 e 2019: "Deadpool 2", "Fênix Negra" e "Os novos mutantes".
 
O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (2001): o avanço da tecnologia dos efeitos visuais possibilitou que projetos fantásticos, considerados inviáveis em Hollywood, fossem realizados. Este épico de fantasia, dirigido por Peter Jackson e inspirada na obra literária de J. R. R. Tolkien, inova ao utilizar a captura de movimentos (motion capture). Isso faz com que qualquer personagem criado digitalmente tenha mobilidade e trejeitos realísticos. Na ocasião, essa captura foi feita para desenvolver a figura de Gollum, um dos protagonistas da saga de Frodo, um hobbit designado a levar um dos anéis mágicos e malignos do título para ser destruído em um local específico. Todo o projeto foi filmado de uma só vez e a longa duração no material bruto fez com que os produtores lançassem a história em 3 partes entre os anos de 2001 e 2003.
 
Trilogia Bourne (2002/2004/2007): "A Identidade Bourne", de Doug Liman, surgiu em 2002 com uma proposta pouco convencional de se criar um filme de ação mais 'pé no chão', sem muita pirotecnia, com atmosfera de espionagem e com aparência de 'longa independente'. Se não fosse por ele suas duas continuações, "A Supremacia Bourne" e "O Ultimato Bourne", ambas comandadas por Paul Greengrass, não existiriam para dar alguma importância ao gênero. Greengrass implantou o estilo semidocumental nas cenas de ação. Câmeras trêmulas quase em primeira pessoa, edição ultradinâmica repleta de elipses, realismo nas lutas e cenas de violência cruas contribuíram para que o formato se tornasse uma referência aos novos exemplares de ação.
 
Avatar (2009): tudo visto aqui, em termos de estrutura de narrativa, não é novidade. O que torna "Avatar" um espetáculo é a originalidade e a riqueza de seus elementos fantásticos criados de maneira factível. Isso vai desde o visual nativo dos Na’Vi (raça 'alienígena' que vive no planeta Pandora), a criação de um dialeto completo até os detalhes da biodiversidade multicolorida do tal planeta. A exuberância do complexo ecossistema é fascinante e todo o desenvolvimento desse universo se deve ao cineasta James Cameron. Ele, inclusive, gosta de inovar no cinema, que o diga os legados tecnológicos de seus trabalhos anteriores "O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final" e "Titanic". O que torna o "Avatar" revolucionário é a tecnologia 3D criada especialmente para o filme para conseguir o realismo que Cameron tanto desejava. Câmeras 3D foram reinventadas para aperfeiçoar a captura de movimentos. Além disso, a recepção do efeito também sofreu uma inovação ao utilizar lentes duplas para que as imagens exibidas não causassem desconfortos aos espectadores. Foi o adeus aos óculos de lentes bicolores. "Avatar" é uma experiência imersiva arrebatadora.
 
Os vingadores (2012): é o auge da 'nova era' dos filmes de super-heróis inspirados em histórias em quadrinhos. Além disso, é a afirmação do sucesso de que o cinema pode, sim, criar universos compartilhados entre diversos personagens que possuem linhas narrativas próprias. "Os vingadores", que reúne os tradicionais heróis ('não mutantes') da editora Marvel, certamente, serviu de inspiração para uma nova tendência em Hollywood na criação de crossovers. Com o êxito do super grupo, formado por Homem de Ferro, Hulk, Capitão América, Thor, Viúva Negra e Gavião Arqueiro, que é a primeira produção do subgênero a atingir pouco mais de US$ 1,5 bilhão, outros estúdios ficaram motivados a desenvolverem seus universos ou conexões com obras já prontas para estenderem histórias e, claro, faturarem.
 
Mad Max: A Estrada da Fúria (2015): como citei anteriormente, a evolução dos efeitos visuais proporciona ao cinema tornar possível tudo aquilo que era considerado impossível. No entanto, O uso excessivo dessa tecnologia faz com que diversos longas fiquem cada vez mais artificiais. Neste contexto, "Mad Max: A Estrada da Fúria", o quarto filme da saga apocalíptica criada e dirigida por George Miller, é um respiro ao investir mais em efeitos práticos na ação que intervenções digitais. Miller criou um gigantesco set de filmagens e abusou de coreografias bem elaboradas (e em alta velocidade!), da presença de dublês, de explosões reais e de cenários tangíveis (incluindo os estilosos veículos) para nos entregar uma ação real de cair o queixo. A grandiosidade do filme lembra, bastante, a estrutura que os grandes épicos de antigamente tinham  para criar algo crível e genuinamente impressionante. Além disso, "Mad Max: A Estrada da Fúria" é um dos destaques na questão do empoderamento feminino no cinema. A poderosa e destemida personagem Furiosa, interpretada com muito vigor por Charlize Theron, é mais importante que o próprio Max (Tom Hardy) na trama. Isso fez consolidar e alavancar ainda mais o movimento 'girl power' em outras produções subsequentes. O que fica de lição? O cinema não pode perder sua essência prática e deve caminhar de mãos dadas com a tecnologia para fazer aflorar a diegese no espectador.