segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Projeto Gemini

A premissa de “Projeto Gemini” é bem legal. O melhor assassino de todos (vivido por Will Smith) decide se aposentar, mas acaba sendo exposto a um segredo que o faz virar o alvo principal da organização em que trabalha. Ele é tão bom e preciso que nenhum outro assassino altamente treinado consegue matá-lo. A solução? Utilizar um clone, uma ‘cópia’ mais jovem do maior assassino, para (tentar) eliminá-lo.
 
Uma ‘boa premissa’ não é sinônimo de bom filme. Infelizmente, “Projeto Gemini” erra mais que acerta. Os erros não fazem o longa ser execrável, mas torna-o burocrático e pouco criativo. O roteiro desenvolve mal a ideia, ou melhor, as ideias. Uma delas é explorar pouco a potencialidade do tal assassino, cujas habilidades de luta e precisão de tiro beiram a perfeição. Praticamente, há um breve momento de ação para construir esse empoderamento. Vemos o quanto ele é tão bom quando é perseguido pelo clone, mas isso não é o suficiente para se criar empatia. Não há uma jornada para que ele possa demonstrar suas aptidões. Nem o carisma de Will Smith consegue fazer seu personagem ser empolgante. A título de comparação, nesse quesito, John Wick é um acerto inquestionável.
 
A outra ideia mal explorada é a do clone e todo o contexto que envolve sua criação. Tudo é muito raso, não debate conceitos e o pouco que mostra não convence como deveria. Há um grande potencial desperdiçado. O filme poderia ter sido uma baita ficção científica, mas acaba ficando apenas no ‘tiro, porrada e bomba’. Isso me faz questionar o porquê deste projeto, que seria interpretado por Clint Eastwood e depois substituído por Mel Gibson, ter sido cancelado no final dos anos 90 por ser ‘tecnologicamente impossível’ de ser feito. Se o problema era a limitação dos efeitos visuais da época para rejuvenescer o protagonista em 28 anos, não teria sido melhor Eastwood, por exemplo, contracenar com um sósia? “Cowboys do Espaço”, em 2000, fez isso, utilizou sósias para retratar os protagonistas em fases mais joviais e funcionou muito bem.
 
Se o texto não funciona bem, pelo menos, duas coisas são bem-vindas: a direção de Ang Lee e a novidade high frame rate (HFR), traduzindo, alta taxa de quadros, que foi divulgada no lançamento do filme. Lee é um bom cineasta. Em 2012, ele ganhou o Oscar de Melhor Diretor por “As Aventuras de Pi”. Na época, ele pegou um roteiro problemático e o transformou em um belíssimo trabalho, principalmente pelo que fez ao retratar a parte do naufrágio que envolve Pi. Em “Projeto Gemini”, ele não teve a mesma sorte. Ainda que proporcione bom ritmo e trabalhe com poucos cortes de câmera nas sequências de ação (há vários pequenos planos-sequências ao longo da projeção), a maioria das cenas criadas é muito simples, carece de complexidade e, em muitas delas, de emoção. O que Lee fez de relevante na produção foi na utilização do tal HFR.
 
Sejamos francos, o ‘high frame rate’ não é tão novidade assim no cinema. O cineasta Peter Jackson já havia rodado “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada”, em 2012, em 48 quadros por segundo (um filme tradicional é feito com 24qps – para os leigos, um segundo de filmagem é equivalente a 24 fotos). Ang Lee foi além e fez “Projeto Gemini” com inéditos 120qps, mas, na maioria dos cinemas, o HFR esteve disponível em 60qps apenas na versão 3D para o exibidor utiliza projetores em 4k. A distribuidora Paramount vendeu essa ideia como 3D+.
 
Que diferença faz esse HFR? As imagens ficam mais nítidas e mais dinâmicas. Fazendo uma comparação com a TV (guardadas as devidas proporções, obviamente), quanto maior a frequência em Hertz (Hz), ou taxa de atualização da imagem, menos ‘motion blur’ ou movimento borrado terá na tela (dê um ‘Google’ aí para entender mais sobre isso).
 
O HFR nas cenas de ação ficou bastante interessante. Além de possibilitar a utilização de câmeras lentas (poderia ter sido mais utilizada aqui, diga-se de passagem), os movimentos nunca ficam confusos e as cenas ganham mais impacto, mais realismo. Exemplo disso é a boa sequência da perseguição de motos. Ah, sem falar em uma melhora considerável da profundidade do 3D utilizando esse recurso. O ponto negativo é revelar a artificialidade dos efeitos visuais. Embora os efeitos sejam bem aplicados aqui, alguns detalhes podem se tornar perceptíveis. São poucos, mas há determinados momentos que percebemos que há uma ‘maquiagem digital’ no jovem Will Smith.
 
Claro, não é o HFR que fará o filme ser bom. Isso é apenas uma ferramenta para ajudar na imersão do espectador na história que está sendo contada. Ang Lee acerta no HFR, mas derrapa ao não conseguir se safar se um roteiro ruim. No geral, “Projeto Gemini” é uma sessão da tarde descompromissada, principalmente para aqueles que curtem o estilo de ação ‘gato-e-rato’.
 
Projeto Gemini (Gemini Man)
2019, EUA – 117 minutos
Ação
Direção: Ang Lee
Roteiro: Billy Ray, Darren Lemke, David Benioff
Elenco: Will Smith, Benedict Wong, Clive Owen, Mary Elizabeth Winstead, Alexandra Szucs, Björn Freiberg, Chris Goad, Daniel Annone, Daniel Salyers, Douglas Hodge, Jeff J.J. Authors
Cotação: * *

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