terça-feira, 2 de julho de 2019

X-Men: Fênix Negra

Como disse Galvão Bueno na Copa do Mundo de 1994: "Acabôoo, é tetraaa"! Sim, meus amigos, a saga dos "X-Men" (e seus derivados) nos cinemas acabou... por enquanto. Foram 19 anos e 13 filmes produzidos pela Fox, sendo sete deles comandados pela trupe do Professor Xavier, três longas sobre Wolverine, duas produções protagonizadas por Deadpool e um que já está pronto há muito tempo ("X-Men: Novos Mutantes", outro proveniente desse universo), mas seu lançamento foi adiado inúmeras vezes e ainda há uma previsão de estreia para 2 de abril de 2020.

"Fênix Negra" faz parte da 'narrativa principal' dos mutantes nas telonas e que 'apagou as luzes e fechou a porta' desse universo cinematográfico. É o quarto (péssimo trocadilho com o 'tetra' acima, me desculpem) da nova série de filmes sobre mutantes da Marvel que foi reiniciada em "Primeira Classe", com um elenco carismático estrelado por James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence e Nicholas Hoult.
 
"Fênix Negra" não é abominável como dizem. Embora tenha lá seus defeitos, o longa é 'OK', divertidamente assistível, ou melhor, uma boa sessão da tarde. Convenhamos, nenhum longa sobre esses mutantes conseguiu ser espetacular como merecia, de fato. No entanto, cinco deles são muito bons: os dois primeiros, "Primeira Classe", "Dias de um futuro esquecido" (sim, eu gosto!) e "Logan".
 
A verdade é que a saga dos "X-Men" no cinema foi uma bagunça em sua linha temporal. Quanto mais mexiam na tentativa de alinhar os fatos mais atrapalhavam as conexões narrativas. E o pior, muitas produções não obedeciam a determinados critérios para que a linha temporal tivesse alguma coesão. Isso contribuiu para o desinteresse do público. "Dias de um Futuro Esquecido" tentou consertar e conseguiu em partes, mas não foi satisfatório como um todo. Outra crítica pertinente à saga é o contexto social metafórico sobre a existência dos mutantes, sempre explorado de maneira rasa e aqui não é diferente.
 
"Fênix Negra", como disse, não é execrável, embora seja convencional (qual não é?). Não dá para esperar tanto de uma franquia que nunca entregou um produto de excelência sobre os mutantes. Por isso, prefiro avaliar o filme com a perspectiva (apenas cinematográfica, sem entrar do mérito e na importância da Fênix Negra das HQs) do 'copo meio cheio'. Apesar de muitas falhas, há alguma qualidade neste último episódio dos X-Men. A premissa não é de se jogar fora, tem algum potencial, mas... 
 
A narrativa foca na personagem Jean Grey e em Charles Xavier no primeiro ato. No segundo, o assunto é a nova ameaça clichê de 'destruição do planeta'. No terceiro, 'a união faz a força' e... você verá.
 
Todos já sabemos que Jean conseguiu atingir o ápice de seu poder transformando-a na Fênix Negra ao derrotar o vilão Apocalypse no longa anterior. Em uma missão de resgate a um ônibus espacial fora da Terra, Jean absorve uma poderosa energia cósmica que tem capacidade de ampliar seus poderes, mas, também, deixá-los descontrolados. Com isso, ela se torna uma ameaça a todos. 

O que uma boa e velha história faz? Coloca a heroína em um drama existencialista que a obriga a lidar e superar seus problemas. E é isso que o roteiro faz ao retratar o passado da protagonista e ao mostrar a influência duvidosa de Charles em sua vida.
 
Em determinado momento, Charles é tratado como um antagonista e é o responsável por moldar a personalidade ameaçadora de Jean. Ela deixa os X-Men em busca de verdades sobre seu passado e, paralelamente a isso, extraterrestres, que monitoravam a tal energia cósmica, procuram-na por acreditarem que a mutante seja a chave para viabilizar um plano catastrófico para a humanidade. Todos estão à sua busca, seja para explicar um 'mal entendido' ou para ser manipulada e utilizada como uma poderosa arma capaz de destruir o planeta inteiro.
 
O primeiro ato é muito bom. Os X-Men, enfim, se tornam 'amigos de todo o mundo', em especial do governo norte-americano. São respeitados e tratados como heróis. No entanto, toda essa paz se desmorona com a hostilidade de Jean. E aí começam os problemas de roteiro. Algumas decisões textuais soam infantis. Além disso, há inconsistências dramáticas e argumentos repentinos nas transições de ações/reviravoltas. Tudo isso faz com o que roteiro seja frágil, com passagens mal desenvolvidas e com desperdício de personagens (Mercúrio e Magneto, por exemplo, tem pouca presença de cena).
 
Essas falhas de roteiro não são novidades nesse tipo de filme. A maioria deixa a desejar nesse quesito. O que faz isso não ser tão grave é uma boa direção que, aqui, infelizmente, é pecaminosa. Simon Kinberg, que dirige e roteiriza "Fênix Negra" (também escreveu os dois últimos X-Men), é burocrático. Ele desenha boas cenas, há ideias interessantes, mas não consegue realizá-las com criatividade. O uso de câmeras lentas não impressiona. Falta vigor, ambição, descontração.
 
A melhor cena é aquela que abre o longa e é bem competente, diga-se de passagem. A trilha sonora de Hans Zimmer contribui para que essa sequência tenha impacto positivo. Falando nisso, a trilha de Zimmer é a melhor coisa que tem em toda a projeção e é uma importante ferramenta que ajuda no ritmo de quase tudo. O problema é que só a trilha não faz milagre.
 
No final das contas, tudo termina sem o 'gosto de quero mais' e uma estranha incerteza de definir se o filme é ruim ou bom. Pelo menos é melhor que "X-Men 3", outro longa, como "Fênix Negra", que teve seu potencial desperdiçado. Tá bom, tenho que decidir, né... apesar das críticas aparentemente duras, é legalzinho!
 
O futuro dos X-Men nos cinemas vai depender da Disney, que comprou a Fox por um valor bilionário e adquiriu os direitos de utilizá-los nas telonas. E como o Mickey é, também, o dono da Marvel Studios, fica a esperança de ver os X-Men participando do MCU (Universo Cinematográfico da Marvel) ao lado dos Vingadores e, claro, sendo comandado por pessoas mais qualificadas que adaptem as HQs de Jack Kirby e Stan Lee com a excelência que os mutantes merecem.
 
X-Men: Fênix Negra (Dark Phoenix)
2019 – EUA, 113 minutos
Aventura/Ficção Científica
Direção: Simon Kinberg
Roteiro: Simon Kinberg, Chris Claremont
Elenco: James McAvoy, Alexandra Shipp, Jennifer Lawrence, Jessica Chastain, Michael Fassbender, Nicholas Hoult, Sophie Turner, Tye Sheridan, Andrew Stehlin, Ato Essandoh
Cotação: * * *