terça-feira, 1 de outubro de 2019

Ad Astra – Rumo às estrelas

“Ad Astra”, cujo significado em latim é basicamente o subtítulo que o longa ganhou no Brasil (para as estrelas), é uma ficção científica para poucos. Para se ter uma ideia do que o espectador encontrará, o filme tem a simplicidade estética e a qualidade sonora que remete a “Gravidade”, a busca pela sobrevivência lembra “Interestelar”, há um conflito psicológico a lá “Apocalipse Now” e o ritmo lento e a essência filosófica da narrativa faz referência a produções como “Solaris” e “2001 - Uma odisseia no espaço”. Apesar de ser bem menos complexo em relação aos dois últimos longas citados, “Ad Astra” utiliza a imensidão do universo para passar uma mensagem familiar que é maior do que imaginamos.

Roy McBride é o astronauta mais bem preparado da SpaceCom. Após misteriosos flashes espaciais ameaçarem a vida dos seres humanos, Roy é recrutado para uma missão no intuito de desvendar os tais eventos e resgatar seu pai Clifford McBride, que pode estar por trás de tudo isso. Clifford, inclusive, está em uma base espacial desaparecida a anos após comandar o desastroso Projeto Lima, que visa procurar sinais de vida alienígena no espaço.
 
O longa apresenta uma temática grandiosa, porém com uma estética mais simplista, pouco futurista, ou melhor, menos fantasiosa. A concepção do design de produção parece estar mais próxima do que conhecemos hoje, no presente, do que pensamos ser no futuro. Claro, como se trata de uma ficção científica, há vislumbres de futurismo, como a gigantesca ‘torre espacial’ com suas bases cravadas na Terra e as estações lunar e marciana, cenários da jornada do protagonista. Há uma tecnologia evoluída, mas ela nunca rouba a cena.
 
Essa ideia de ser pouco fantasiosa é trabalhada de maneira brilhante pelo diretor James Gray (“Z: A Cidade Perdida”). O cineasta concede um visual minimalista ímpar, imprime um ritmo frio e cadenciado e dirige ações pontuais ao longo da projeção para quebrar a lentidão narrativa. Há, pelo menos, três ótimas sequências mais movimentadas que farão o espectador se agarrar de tensão na poltrona. Além disso, salvo as licenças poéticas, o longa obedece alguns conceitos científicos da física e não apela para a complexidade relativista, como aquelas que vimos em “Interestelar”, por exemplo. Isso traz certa leveza ao roteiro e faz o público absorver mais a história que está sendo contada (é o que mais importa) ao invés de focar no didatismo científico sobre a verossimilhança das ações.
 
A grande virtude de Gray em “Ad Astra” talvez seja a harmonia que ele proporcionou em todos os aspectos do projeto. Prova disso, é o seu domínio na utilização da excelente parte técnica. A edição, os efeitos visuais, a cinematografia, a engenharia de som (em especial, a mixagem) e, principalmente, a espetacular trilha sonora são os propulsores da imersão do espectador ao filme. O silêncio é preenchido com acordes hipnotizantes do compositor Max Richter.
 
É impressionante o resultado disso tudo. A sensação é de que estamos flutuando junto com o protagonista. Claro, outro fator que agrega na regularidade da produção é a atuação irretocável de Brad Pitt. O desempenho minimalista do ator está em uma perfeita sintonia com a proposta do filme. Pitt transborda talento ao ‘dizer muito com pouco’ em meio ao silêncio e a solidão do espaço.
 
A narrativa demonstra ter alguma ambição, mas quando as ações afunilam para o clímax há um intimismo que freia a expectativa daqueles que esperam uma grande reviravolta. Apesar de soar negativo, esse tom intimista nos faz refletir sobre a discussão familiar presente em todo o longa (o filho em busca do pai) e mostra que os sentimentos são mais grandiloquentes que a missão do Projeto Lima ou da própria exploração do espaço sideral. Muitas vezes, barreiras internas do ser humano podem ser mais desafiadoras e importantes do que um desbravamento espacial.
 
Enfim, “Ad Astra” é uma ficção científica grandiosa que valoriza mais a ‘contemplação’ que o ‘movimento’. Não tem a complexidade de produções icônicas do passado, mas é um ótimo exemplar do gênero para os tempos atuais. Um espetáculo visual que, embora seja recomendado para a minoria por causa de sua vagarosidade, merece ser apreciado. Oscar? Eu ouvi indicações ao Oscar?
 
Ad Astra – Rumo às estrelas (Ad Astra)
2019, EUA – 123 minutos
Ficção Científica
Direção: James Gray
Roteiro: Ethan Gross e James Gray
Elenco: Brad Pitt, Donald Sutherland, Kimberly Elise, Liv Tyler, Ruth Negga, Tommy Lee Jones, Afsheen Olyaie, Alyson Reed, Anne McDaniels
Cotação: * * * * *



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