segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Flores do oriente

A Segunda Guerra Mundial nunca foi ‘tão bela’ como em “Flores do oriente”, filme do cineasta chinês Zhang Yimou, o mesmo de “Heroi” e “O clã das adagas voadoras”. O curioso é que a produção não foi muito bem recebida pela crítica cinematográfica brasileira, ou, pelo menos, por boa parte dos apreciadores dos principais jornais e sites que criticaram a excessividade plástica sobre o sentimentalismo, o que é uma injustiça.
 
Discordo do tão criticado desequilíbrio e tampouco a dramaticidade ficou ofuscada pela plasticidade, pelo contrário, ambos se complementam para enriquecer a diegese. “Flores do oriente” é, sim, sensacional e envolvente, tanto no que diz respeito ao realismo e na estética como na atuação do elenco e no bom roteiro, que é baseado no romance “The 13 Women of Nanjing”, do autor chinês Yan Geling, que retrata o famoso massacre de Nanquim, na China, em 1937, em que milhares de mulheres foram estupradas e mortas pelas tropas japonesas.
 
A narrativa possui quatro momentos: a chegada de um agente funerário norte-americano (personagem bem interpretado por Christian Bale) a Nanquim que tem a incumbência de enterrar o sacerdote da cidade; um pequeno confronto entre soldados japoneses e chineses; o refúgio de crianças e prostitutas na igreja e o coveiro que se finge de padre para defender as pessoas que estão no local.
 
A estética de “Flores do oriente” é tão bela que há situações em que a violência estilizada, aliada a outros componentes técnicos (câmeras lentas, fotografia de cores fortes, trilha sonora com tons de violino, belos figurinos e direção de arte), soa como poesia. Isso trás uma veracidade dramática intensa que contagia e emociona o espectador de forma pontual.
 
O realismo e a crueldade são outros destaques, principalmente nas cenas e cenário de guerra que, diga-se de passagem, são as melhores desde “O resgate do soldado Ryan”. A imposição sobre as crianças em relação ao ‘fim da inocência’ ou do amadurecimento forçado frente ao conflito e a selvageria dos soldados japoneses é forte e comovente, principalmente quando elas sofrem tentativas de estupro.
 
Talvez o único exagero seja o tratamento dado aos japoneses que parecem animais impiedosos. Não duvido que isso tenha acontecido, já que se trata de um dos episódios mais brutais da história. Isso me faz lembrar a tal ‘licença poética’: quando a verdade é exposta de maneira crua, ela pode espantar e incomodar o espectador; se a verdade é mostrada de forma branda, o drama pode perder valor por não ser convincente. É aí que a plasticidade e a dramaticidade de “Flores do oriente” se destacam por equilibrar ações e por deslumbrar uma tragédia 'indeslumbrável'.
 
Flores do oriente (Jin Líng Shí San Chai)
China, 2011 - 146 minutos
Drama / Guerra
Direção: Zhang Yimou
Roteiro: Liu Heng, Yan Geling
Elenco: Christian Bale, Ni Ni, Zhang Zinyi, Dawei Tong, Huang Tianyuan, Paul Schneider
Trailer: clique aqui
Cotação: * * * * *