domingo, 9 de julho de 2017

Homem-Aranha: De volta ao lar

Homem-Aranha, o alter ego de Peter Parker, é um dos super-heróis mais populares no universo das histórias em quadrinho. Criado por Stan Lee e Steve Ditko, em meados dos anos 60, o personagem caiu na graça do público pela simplicidade de seus arcos dramáticos. A imaturidade, a timidez, a ingenuidade, a humildade, as trapalhadas, o descobrimento de seus poderes (juntamente com as dificuldades de lidar com eles) e o espírito 'nerd jovial escolar' fizeram muita gente se identificar com o 'amigão da vizinhança'. 

Depois de conquistar o sucesso nas HQs da Marvel e nos desenhos animados, era questão de tempo para que o aracnídeo fizesse o mesmo no cinema.
Apesar da desconfiança do subgênero, que quase foi enterrado pelos fracassos de "Batman Eternamente" (1995) e "Batman & Robin" (1997), os êxitos de "Blade - O Caçador de Vampiros" (1998) e "X-Men: O Filme" (2000) foram a motivação para que "Homem-Aranha" surgisse nas telonas em 2002, sob o comando de Sam Raimi e protagonizado por Tobey Maguire.
 
O sucesso foi absurdo. Orçado em US$ 139 milhões, o filme faturou em solo norte-americano mais de US$ 403 milhões. Somando com os US$ 418 milhões nas bilheterias ao redor do mundo, o longa finalizou a carreira nos cinemas com mais de US$ 821 milhões arrecadados. "Homem-Aranha", além de impulsionar duas sequências bem sucedidas financeiramente, foi a fagulha que faltava para incendiar o cinema com a retomada das adaptações cinematográficas das HQs de super-heróis.
 
Com o passar dos anos, a Sony, detentora dos direitos de Homem-Aranha nos cinemas, decidiu fazer uma releitura do personagem com "O Espetacular Homem-Aranha" (2012) e "O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro" (2014), ambos protagonizados por Andrew Garfield e dirigidos por Marc Webb. Os dois longas tiveram bons resultados nas bilheterias, mas foram fracassos críticos. Ao mesmo tempo, a Marvel Studios e a Disney estavam se dando bem ao criarem o Universo Cinematográfico Marvel. No entanto, a figura que faltava para deixar o tal universo ainda mais atrativo era o aracnídeo.
 
Um acordo histórico entre estúdios fez o sonho se tornar realidade. Em 2016, o Homem-Aranha roubou a cena em "Capitão América: Guerra Civil" e o melhor, teve seu comando intelectual à disposição da Marvel, que apresentou o personagem da forma que os fãs queriam. Em 2017, surge o esperado filme, com um título pra lá de adequado: "Homem-Aranha: De Volta ao Lar", protagonizado pelo excelente e carismático Tom Holland.
 
"Homem-Aranha: De Volta ao Lar" deixa de lado as origens do personagem, que todos já sabem, e dialoga com sua simplicidade e pureza. O filme começa após os eventos de "The Avengers - Os Vingadores" (2012) e logo conhecemos Adrian Toomes (otimamente interpretado pelo "Birdman" Michael Keaton), um sujeito que tem aversão a ricos e poderosos e se apodera de destroços alienígenas da batalha de Nova Iorque, para poder fabricar e vender poderosas armas no mercado negro. Anos mais tarde, aparece Peter Parker. Empolgado ao ser recrutado por Tony Stark para a batalha do aeroporto contra a trupe do Capitão América, Parker filma sua participação no confronto com seu celular e fica famoso na internet como Homem-Aranha.
 
De volta ao lar, no bairro do Queens, em Nova Iorque, onde mora com sua tia, May (novamente interpretada por Marisa Tomei), Parker vive à expectativa do contato de Stark para ser chamado para a ação novamente e tem que lidar com seus afazeres escolares e dilemas. Em uma de suas noites em que tenta 'ajudar a vizinhança' como Homem-Aranha, ele acaba entrando no caminho do vilão Abutre, alter ego de Adrian Toomes. O vilão, diga-se de passagem, possui motivações individuais e foge do clichê 'pretensão de dominar o mundo'. Seu desenvolvimento é o melhor desde Loki.
 
"Homem-Aranha: De Volta ao Lar" acerta em cheio ao desenvolver a personalidade e comportamento de Peter Parker, que são oriundos das HQs. Além disso, o filme possui uma atmosfera sempre alegre e nos diverte o tempo todo de inúmeras maneiras: seja por suas referências a outros filmes do teioso, pelo ambiente estudantil que nos remete aos anos 80 (essência inspirada nas produções de John Hughes), pelo relacionamento com o melhor amigo Ned, pelas trapalhadas e ingenuidades de Parker ou pelas gags pontuais do roteiro que brincam o tempo todo com o personagem e seu traje tecnológico.
 
A narrativa simples e descomplicada favorece a identificação do público com o protagonista, o que nos deixa com o desejo de ficar vendo somente as peripécias e enrascadas (vide a ótima reviravolta no início do terceiro ato) do 'jovem aranha'. O ritmo é tão delicioso que nem nos preocupamos com a aparição do Homem de Ferro. Tony Stark, diga-se de passagem, tem uma participação curta, porém crucial, no longa. Ele é quase uma figura paterna (que substitui o tio Ben no filme original) para Peter e é o responsável por inspirar a maturidade e a responsabilidade de um super-herói no garoto.
 
Tecnicamente falando, "Homem-Aranha: De Volta ao Lar" poderia ser melhor. Ainda que tenha bons efeitos visuais, as grandes cenas de ação não empolgam como deveriam. Há boas idéias para o desenvolvimento das sequências, mas nenhuma se torna memorável, o que deixa a sensação de falta criatividade na direção de Jon Watts.
 
A história é um 'puxadinho' no Universo Cinematográfico Marvel. É uma pena que, em um primeiro momento, não traz tanta importância entre as tramas compartilhadas, não inserindo reviravoltas ou novos rumos sobre a 'narrativa macro' que já está em andamento. "Homem-Aranha: De Volta ao Lar" não é o melhor filme de super-herói, mas, certamente, é um dos mais divertido deles, o que dá novo fôlego para as próximas aventuras de Peter Parker.
 
Homem-Aranha: De Volta ao Lar (Spider-Man: Homecoming)
(2017, EUA - 135 minutos)
Aventura / Ação / Comédia
Direção: Jon Watts
Roteiro: Chris McKenna, Christopher Ford, Erik Sommers, John Francis Daley, Jonathan Goldstein, Jon Watts, Stan Lee, Steve Ditko
Elenco: Tom Holland, Donald Glover, Jon Favreau, Marisa Tomei, Michael Keaton, Robert Downey Jr., Tyne Daly, Zendaya, Abraham Attah, Angourie Rice
Cotação: * * * *