sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Pantera Negra

“Pantera Negra” é uma celebração, uma energia singular dentro do Universo Cinematográfico Marvel (MCV). O longa é diferente visualmente, sobretudo politicamente, de outros exemplares de super-heróis, porém é estruturalmente igual a qualquer outra superprodução do estúdio Disney/Marvel ao ser fiel à sua fórmula.
 
A narrativa começa após os incidentes de “Capitão América: Guerra Civil”, com a morte do rei T'Chaka e o retorno de T'Challa (interpretado pelo competente Chadwick Boseman) a Wakanda. Com a morte do rei e a incerteza sobre a capacitação do príncipe em governar o país, uma das nações tecnologicamente mais avançadas do planeta e rica em metais, algumas pessoas se armam para tentar assumir o poder. Uma delas é Erik Killmonger (personagem do ótimo Michael B. Jordan), que diverge de várias convicções sobre os rumos de sua terra natal e quer, a todo custo, assumir o trono.
 
“Pantera Negra” não foi o primeiro super-herói negro a ter algum prestígio no cinema. Anteriormente, “Steel - O Homem de Aço” (1997), com Shaquille O'Neal, e “Blade - O Caçador de Vampiros” (1998), com Wesley Snipes, ganharam visibilidade no passado. Desses, somente o “Blade” obteve êxito. Curiosamente, no início dos anos 90, Snipes tentou levar o Pantera Negra para as telonas, mas não conseguiu.
 
Criado por Stan Lee e Jack Kirby, o personagem nasceu em 1966 para uma participação especial em uma aventura de “Quarteto Fantástico”. Em 1968, ele se tornou membro fixo dos Vingadores e só ganhou uma história em quadrinhos em 1977, período do Blaxploitation que ocorreu nos anos 70.
 
A expressão, que é a junção de ‘black’ (negro) e ‘explotaition’ (exploração),  foi um movimento cinematográfico nos Estados Unidos em que os filmes eram dirigidos e protagonizados apenas por negros. Tal representatividade, que exaltava em tela a cultura negro-africana em meio às transformações políticas estadunidenses na época, ganha uma bela referência aqui, seja por sua essência visual/política ou pelo elenco quase todo afrodescendente (incluindo o diretor).
 
Não teve época melhor para a Disney/Marvel em lançar “Pantera Negra” no cinema. Atualmente, o mundo tem lutado cada vez mais contra o racismo e a intolerância e valorizado, na mesma intensidade, os movimentos a favor da diversidade e do respeito. E essa essência é notória e contextualizada pelo roteiro do longa dirigido pelo promissor Ryan Coogler (“Fruitvale Station” e “Creed”).
 
Ainda que a fantástica Wakanda se diferencie de outras nações africanas pelo avanço tecnológico e no desenvolvimento social, o país é de regime monarca, possui sistema político ditatorial (ultrapassado, porém ideal para proteger seus segredos) e tem suas fronteiras fechadas. Aliada com sua modernização, Wakanda torna-se invisível, literalmente, para outros povos para não atiçar possíveis interesses por suas grandes reservas de Vibranium (metal fictício que é considerado o mais resistente do mundo e usado para fazer o escudo do capitão América e, também, as garras e uniforme do Pantera).
 
Esse é motivo, pelo qual, vemos um dos antagonistas, o mercenário Garra Sônica (visto por último em “Vingadores: Era de Ultron” e vivido novamente pelo excelente Andy Serkis), que tem planos de roubar um lote do tal metal. Sua ação ainda contribui para colocar mais ‘lenha na fogueira’ sobre a delicada situação política do lugar.
 
A tecnologia, inclusive, é um ponto interessantíssimo em “Pantera Negra”. Há uma mescla curiosa entre futurismo e saudosismo que proporciona uma atmosfera tecno-utópica incomum no MCV sem perder a identificação nativa. Além disso, o visual multicolorido de traços africanos e os figurinos tribais folclóricos são deslumbrantes.
 
Ryan Coogler, ainda que não tenha a mesma inspiração de seus longas anteriores, equilibra bem o desenvolvimento da mitologia do herói, proporciona bom tempo de tela para a maioria dos personagens (com destaques para a força feminina do grupo Dora Milage e para Erik Killmonger, o melhor vilão desde Loki, cujos ideais são convincentes e cria empatia com o público) e capricha nas ações que, diga-se de passagem, são bem idealizadas, vide as perseguições de carro e a cena do cassino. Um dos poucos problemas é que há momentos com excesso de efeitos gráficos que deixam algumas sequências com aparência artificial ou borrachuda.
 
A ‘fórmula Marvel’ segue presente nos filmes do estúdio, assim como os inúmeros easter eggs (seja referências a outros longas, aos quadrinhos ou ao mundo real), e aqui não é diferente ao mostrar os conflitos de T'Challa em sua jornada para superar as adversidades. Claro, não pode faltar o humor peculiar da Marvel que é inserido de maneira pontual ao longo da projeção. Não é comédia com aventura como em vimos recentemente em “Thor: Ragnarok” e que causou certa polêmica, é uma aventura com momentos cômicos bem encaixados.
 
Enfim, “Pantera Negra” é um longa afro emblemático, imponente e um dos melhores do Universo Cinematográfico Marvel. É uma pena que seja uma produção um pouco isolada de seus coirmãos, principalmente por ser um dos palcos do aguardado “Vingadores: Guerra Infinita”, mas não deixa de ser um entretenimento obrigatório.
 
Pantera Negra (Black Panther)
2017, EUA – 134 minutos
Aventura
Direção: Ryan Coogler
Roteiro: Joe Robert Cole, Ryan Coogler, Jack Kirby, Stan Lee
Elenco: Chadwick Boseman, Danai Gurira, Lupita Nyong’o, Michael B. Jordan, Daniel Kaluuya, Letitia Wright, Martin Freeman, Andy Serkis, Winston Duke, Sterling K. Brown
Cotação: * * * *

Trailer: clique aqui