segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Pequena Grande Vida

O diretor e roteirista Alexander Payne ("Nebraska" e "Os Descendentes") é um expert em dramas existenciais. Seus filmes anteriores discutem, de maneira sempre original, o valor da vida nos momentos de adversidades. "Pequena Grande Vida" é mais um exemplar de tema peculiar do cineasta que entra de cabeça em uma 'nano fantasia' que transpira criatividade, mas não consegue ser 'grande o bastante' para ser marcante.
 
A narrativa coloca o espectador em um mundo que enfrenta uma escassez de recursos minerais e naturais. Com isso, cientistas estão à procura de uma solução para garantir a sobrevivência ou a longevidade da humanidade. Até que uma nova tecnologia é criada e provoca o encolhimento corporal do ser humano. Um homem de 1,80 metro, por exemplo, ficará com o tamanho de 12 centímetros de altura e, assim, haverá menos produção de lixo, o dinheiro será mais rentável e os poucos recursos se tornarão duradouros por décadas.
 
A premissa é interessantíssima. A escolha de Payne em optar pela complexidade do gênero drama é notável, o que lhe garante alguma originalidade ao transmitir boas mensagens sobre sustentabilidade e ao discutir assuntos importantes como o preço da felicidade e os valores humanos.
 
O roteiro introduz o assunto de forma incrivelmente contagiante no primeiro ato. Todo o cuidado mostrado nos bastidores do encolhimento humano, o humor situacional rasteiro e as metáforas nas comparações de escalas de tamanho com a situação do protagonista são deliciosamente divertidos.
 
Entretanto, o discurso proposto na introdução do longa, o tom de sátira social, assim como a inventividade de mostrar as peculiaridades do mundo pequenino, se perdem no segundo e terceiro atos. Toda a utopia, que participava ativamente da história, se torna coadjuvante.
 
Payne muda a chave da narrativa para dar mais foco no existencialismo. Com isso, personagens secundários e novos rumos são inseridos na trama e desenvolvidos de maneira confusa e inconsistentes. É uma pena que o diretor falhe no conteúdio em que mais se destaca.
 
Por outro lado, a execução técnica do filme é formidável, em especial o trabalho da fotografia. A todo o momento, temos a impressão de ver tudo miniaturizado. O longa está repleto de planos plongées e de enquadramentos com os personagens em primeiro plano com o cenário em profundidade, sempre em grande escala, estourando a tela. Isso tudo, aliado a um equilíbrio com os efeitos visuais, nos faz acreditar que todos ali são, de fato, pessoas encolhidas.
 
No final das contas, embora Payne atinja seu objetivo textual aos trancos e barrancos, fica a frustração do espectador de o diretor não ter optado por uma aventura. “Querida, encolhi as crianças” (1989), por exemplo, é mais empolgante e consegue ser mais eficiente ao transmitir mensagens semelhantes sendo dramaticamente menos complexo. Ah, sim, quase não percebi. Matt Damon está ‘OK’.
 
Pequena Grande Vida (Downsizing)
2017, EUA – 135 minutos
Drama
Direção: Alexander Payne
Roteiro: Alexander Payne, Jim Taylor
Elenco: Kristen Wiig, Matt Damon, Brigette Lundy-Paine, Christoph Waltz, Diana Krall, Donna Lynne Champlin, Hong Chau, Ingjerd Egeberg, Jason Sudeikis
Cotação: * * *

Trailer: clique aqui