terça-feira, 21 de maio de 2019

John Wick 3: Parabellum

"John Wick" se tornou a melhor referência do gênero ação nos últimos anos. É o 'cinema pipoca' quase perfeito, principalmente por ser bem trabalhado. O primeiro, nominado no Brasil como "De volta ao jogo", fascina por sua simplicidade textual e nos excelentes momentos de pancadaria. Os dois longas subsequentes aumentam a dose de violência, aprimora a plasticidade das cenas, melhoram a qualidade cinematográfica na execução das coreografias e se destaca por apresentar um universo 'underground' de assassinos que nos faz interessar por tudo que vemos.
 
John Wick, um respeitado assassino profissional, decide se aposentar para viver uma vida normal ao lado de sua esposa. Ao falecer em função de uma doença, ela deixa de presente para seu marido um cachorrinho para lhe fazer companhia. Em um belo dia, 'arruaceiros' roubam o seu carro e mata o presente deixado por sua esposa, forçando-o a 'voltar ao jogo'.
 
Um dos 'arruaceiros' é o filho do chefe da máfia russa nos Estados Unidos. John Wick caça o rapaz, provoca toda a cúpula da tal máfia, mata o delinquente russo e consegue sua vingança. Entretanto, sua intenção também gera uma caçada dos russos por sua cabeça o que provoca uma série de ações. No fim das contas, Wick extermina quase toda a máfia russa, adota um novo cachorro e 'vence' a parada.
 
O argumento é simples, é bom e de arco dramático redondinho. Aliado a isso, temos um filme de pancadaria de respeito que investe em coreografias de lutas bem feitas (assim como a edição dessas cenas), bons tiroteios, tiros à queima roupa e violência caricatamente extrema. A verossimilhança é um trunfo e isso cativa o espectador. "De volta ao jogo" é estiloso e John Wick se torna um anti-herói carismático ao aliar amor e vingança como ponto de inspiração para suas ações. Além disso, há todo um interessante cânone sobre assassinos profissionais que é mostrado como pano de fundo e que ganha mais força no segundo filme.
 
Em "John Wick: Um novo dia para matar", o famoso matador espera se aposentar de vez, tranquilo... só que não. Um mafioso italiano o procura para lhe cobrar uma promissória, um pacto de sangue que Wick havia feito por ter sido beneficiado por algum motivo no passado. Essa dívida obriga Wick a realizar sua 'última missão'. Ele nega o pedido do mafioso e, por consequência, é espancado e tem sua casa destruída. Desta vez, o cachorro sobrevive! Pronto, 'de volta ao jogo' novamente!
 
Wick acaba aceitando a missão: matar a atual chefe da máfia italiana, a irmã do 'mandante'. Ele executa a missão, mas é perseguido por capangas italianos, inclusive, por Santino, o que lhe cobrou a promissória. Tiro pra lá, tiro pra cá, socos e pontapés aos montes, muita correria, muito estrago e... a briga acaba dentro do Hotel Continental, o local neutro entre os assassinos e que é estritamente proibido matar nas dependências do lugar. Se alguém descumprir as regras, estará ferindo a 'constituição' da entidade e assinará sua sentença de morte.
 
Por vingança e descontrole emocional, John wick mata Santino dentro do hotel e acaba tendo sua cabeça a prêmio. Todos os assassinos do mundo estão atrás do protagonista. Isso nos leva a comentar sobre a terceira parte: "Parabellum". O ponto de partida é logo após o final do segundo capítulo, com o dono do Hotel Continental dando um tempo de vantagem para Wick poder fugir dos assassinos que estão a sua procura.
 
Em "Parabellum", tudo é jogado na máxima potência. Diversos estilos de ação são misturados de forma brilhante. Muitas lutas corporais (sempre bem editada e com poucos cortes, o que favorece a coreografia dos atores), momento bang-bang, brigas com facas e espadas, perseguições 'gato e rato' a pé, de moto e... até a cavalo! Os cenários repetem a estética do antecessor com muito espelho, reflexos e luzes neons que dão charme aos ambientes noturnos. Tecnicamente falando, o longa é impecável e exemplar.
 
Quando disse 'tudo é jogado na máxima potência' também me refiro ao cânone que contorna o protagonista, que se expande a cada novo filme. Aqui, temos uma breve ideia de organograma da 'entidade dos assassinos' e dos superiores de Winston, o dono do Hotel Continental. Inclusive, descobrimos uma pequena particularidade da origem de John Wick. Essa ideia de alargamento desse submundo é válida e interessante, no entanto, há um certo exagero.
 
O roteiro se preocupa demais em alargar detalhes desse universo e acaba subvertendo os alguns conceitos narrativos. O simples se torna pano de fundo e o argumento que move a história gira em torno da concepção sobre a tal entidade oculta. A impressão é que todos, incluindo figurantes, parecem ser assassinos. Quase não vemos humanização de personagens durante a projeção. Humanização, inclusive, que foi deixada de lado na pancadaria. Há mais cenas absurdas, principalmente quando as graves feridas não atrapalham John Wick em ação.
 
No geral, isso se torna um ponto positivo. Toda essa demasia na construção de universo não estraga o encanto do espectador, pelo contrário, serve para deixá-lo tenso, contagiado e extasiado com cenas de ação pontuais. O ritmo não cai, é constantemente frenético. O tempo entre as pausas para diálogos servem apenas para que todos (dentro e fora da tela) recuperem o fôlego. Quando menos se espera, mais sequências incríveis aparecem para nos impressionar.
 
Quem são os culpados disso tudo? São o carismático Keanu Reeves (nem preciso dizer da competência desse cara) e o diretor Chad Stahelski, que também foi o responsável pelos antecessores. Stahelski, inclusive, foi um dos dublês de Reeves em "Matrix" e, sem sombra de dúvidas, é o maior nome do gênero da atualidade. "John Wick 3: Parabellum" é uma aula de se fazer cinema de ação de qualidade.
 
Mas, afinal de contas, o que é "Parabellum"? Veja o filme e 'prepare-se para a guerra'!
 
John Wick 3: Parabellum (John Wick: Chapter 3)
2019, EUA – 132 min
Ação
Direção: Chad Stahelski
Roteiro: Derek Kolstad
Elenco: Keanu Reeves, Halle Berry, Ian McShane, Anjelica Huston, Asia Kate Dillon, Candace Smith, Cecep Arif Rahman, Faith Logan, Jason Mantzoukas, Jerome Flynn, Kristoffe Brodeur, Lance Reddick, Laurence Fishburne, Mark Dacascos
Cotação: * * * *