terça-feira, 9 de julho de 2019

Atentado ao Hotel Taj Mahal

Filmes que retratam fatos verídicos, com realismo, me remetem a dois bons diretores: Peter Berg e Paul Greengrass. Na verdade há mais Greengrass que Berg no ótimo “Atentado ao Hotel Taj Mahal”, do estreante Anthony Maras. Certamente, o cineasta e roteirista australiano bebeu da mesma fonte que as figuras citadas para retratar o atentado terrorista ao luxuoso Hotel Taj Mahal em Mumbai, uma das maiores (se não a maior) cidade da Índia. 

O episódio, ocorrido em 2008, deixou 166 mortos e centenas de feridos em diversos locais da cidade em um ataque comando por uma célula islamista. Somente no hotel, 31 vidas foram eliminadas durante as 60 horas de terror. Para contar a história do trágico acontecimento, o roteiro foca em algumas pessoas que realizaram pequenos atos heroicos, como o renomado chef Hemant Oberoi e o garçom Arjun, ambos otimamente interpretados por Anupam Kher e Dev Patel, respectivamente.

Dentre as vítimas, cinco eram dos Estados Unidos. No filme, o ator Armie Hammer faz o papel do estadunidense que precisa salvar a vida de seu filho recém-nascido. Inclusive, até o final de 2018, os norte-americanos haviam atualizado a recompensa de 10 milhões de dólares pela detenção dos organizadores dos atentados.

O diretor Anthony Maras consegue proporcionar uma eficiência técnica semelhante ao que Greengrass fez em alguns de seus longas, como “Vôo United 93” e “Capitão Phillips”. A fotografia imprime um tom documental assertivo. Além disso, a câmera inquieta, o ritmo ágil, a fidelidade das locações, a atmosfera claustrofóbica e o uso de imagens de notícias reais em televisões de fundo valorizam o suspense. A ação crua e a hostilidade sanguinolenta dos terroristas também colaboram para que o filme tenha boas doses de tensão. Talvez tenha faltado uma trilha sonora melhor, para que as situações ficassem ainda mais emocionantes.

Sabemos o que aconteceu, mas não sabemos como aconteceu. Essa é a prerrogativa convencional que o roteiro utiliza para chamar a atenção do espectador e jogar na tela peculiaridades do atentado, sejam representações fidedignas ou fictícias que ajudam a dar dramaticidade ao longa. Exemplo disso são questões religiosas e financeiras sutilmente abordadas ou até a possível retratação da condição de pobreza de um dos personagens que, apesar das dificuldades, é honesto e convicto de suas crenças. 

O sentimento de heroísmo é coletivo entre os funcionários do hotel. Embora estejam atordoados e preocupados, a maioria dos empregados não perde a elegante postura profissional (ou ‘gourmet’) de ajudar e servir os hospedes. Isso proporciona empatia e emoção no clímax do filme. Claro, não sobram críticas às autoridades locais. É impressionante como há falta de infraestrutura em segurança na cidade indiana. 

Enfim, “Atentado ao Hotel Taj Mahal” é uma ótima pedida de suspense para quem curte longas baseados em tragédias reais. Certamente, Anthony Maras é um dos destaques positivos da nova safra de cineastas australianos. Outro diretor do país que ganhou notoriedade recentemente foi Garth Davis, responsável pelo espetacular “Lion: Uma Jornada para Casa”. 
 
Atentado ao Hotel Taj Mahal (Hotel Mumbai)
2018, AUS/IND – 125 minutos
Drama
Direção: Anthony Maras
Roteiro: Anthony Maras e John Collee
Elenco: Anupam Kher, Dev Patel, Armie Hammer, Nazanin Boniadi
Cotação: * * * *