quinta-feira, 2 de maio de 2019

"Vingadores: Ultimato" - Mistérios e Questionamentos


(CONTÉM SPOILERS) “Vingadores: Ultimato” é espetacular. No geral, tudo é muito bem amarrado para a construção de um universo compartilhado. Como se trata de adaptações cinematográficas, nem tudo foi feito para ser fiel às origens, as histórias em quadrinhos. Por isso, existem diversas surpresas ou easter eggs para referenciar e homenagear aquilo que serviu de inspiração.
 
Ainda que a coesão narrativa surpreenda a todos, há algumas dúvidas sobre a coerência de alguns fatos ou situações. Claro que a lógica e a ciência também estão presentes, afinal, são 22 filmes fantasiosos que burlam, em vários aspectos, os conceitos científicos. Aliás, todos esses filmes e ideias fazem da ciência a ‘licença poética’ perfeita para conquistar o imaginário dos espectadores. Por isso, os termos e consequências de diversas áreas científicas não são tão levados a sério. No filme “Interestelar”, por exemplo, os conceitos de física quântica são aplicados de maneira mais realista possível. 

É claro que tudo isso pode levar a furos de roteiro e a inconsistências narrativas. Entretanto, quando uma premissa propõe exageros, tudo em torno disso deve estar em um determinado nível de coerência, para que o espectador aceite os ‘absurdos’ que surgirão na tela. Exemplos disso são explosões barulhentas no espaço, diversos planetas ou locais no universo com atmosferas idênticas às da Terra e que não fazem mal a nenhum terráqueo visitante, a existência de deuses, semideuses ou seres poderosos de outros planetas, visualmente iguais aos seres humanos, entre outros. 

As explicações de vórtices temporais ou viagens no tempo via Reino Quântico com partículas Pym, do Homem-Formiga, são absurdas, mas aceitáveis dentro do que foi proposto. Nesse tipo de situação, o espectador não quer saber as minúcias de como isso funciona, ele se interessa apenas por uma rápida introdução da engenhoca, o resto é diversão e o que isso pode impactar na narrativa. Ponto!
 
Para apontar alguns questionamentos sobre “Ultimato” é preciso revisitar alguns detalhes de “Guerra Infinita”. Algumas perguntas podem ter respostas interpretativas condizentes, outras podem ficar no mistério. Haverá algumas análises de pontos de vista diferentes e sugestões sobre o que acontece em tela. Claro, há muitas outras perguntas a serem respondidas, principalmente se levarmos a sério as consequências provocadas por viagens no tempo, que é o principal plot do filme. O que muda no passado reflete no presente, que modifica o futuro... Não... não quero ter essa dor de cabeça (rs...). Confira abaixo:
 
GUERRA INFINITA: Como foi o processo em que o Caveira Vermelha foi submetido a ser um guardião de uma joia do infinito (a da alma)? Quando chegou em Vormir ele deve ter substituído um outro guardião. Como isso aconteceu?

GUERRA INFINITA: Thanos diz, em um determinado momento do filme, que destruiu Xandar para pegar a joia do poder. Foi a única batalha que o espectador não viu. O confronto entre a Tropa Nova e o exército do titã louco seria um excelente pretexto para a introdução do Nova, um dos personagens cósmicos mais populares dos quadrinhos. Será que esse herói surgirá depois da destruição de Xandar? Vamos torcer para que ele apareça em "Guardiões da Galáxia Vol. 3" assim como Adam Warlock, outra figura bastante esperada pelos fãs. Vamos aguardar!
 
GUERRA INFINITA: Ao estalar os dedos para eliminar 50% dos seres vivos do universo, como foi que Thanos 'escolheu' quem viveria ou morreria? Se foi aleatoriamente, ok, mas ele se lembrou do Tony Starky (por causa do Doutor Estranho) e deixou vivas as mentes mais inteligentes do universo, as quais seriam capazes de promover uma vingança. Será que ele não pensou nisso no estalo? Merecia uma explicação melhor. Entretanto, dentro de uma linha narrativa, o fato desses herois continuarem vivos valorizou a ideia de que os Vingadores originais seriam obrigados a se unirem novamente (isso resolve o arco de “Capitão América: Guerra Civil”) para tentarem reverter o estrago causado por Thanos. Isso foi muito legal!
 
ULTIMATO: Em um determinado momento dos primeiros minutos, Natasha e Rhodes comentam a ocorrência de tremores no mar. Será uma referência ao Namor, o ‘Aquaman’ da Marvel? Será que teremos um filme no futuro com esse personagem?  O que foi colocado aqui está muito dúbio, mas deixa aquela pulga atrás da orelha.
 
ULTIMATO: Viúva Negra morre. Sim, ela se sacrifica para o surgimento da joia da alma. Depois de ter visto o filme, ficou óbvio que ela seria uma baixa na história! Clint Barton, o Gavião Arqueiro, tinha família e desejava ter de volta sua esposa e filhos. Ele foi um dos que testaram a viagem no tempo e só aceitou participar da missão com os Vingadores porque viu que haveria uma chance real de recuperar sua família no final. Viúva Negra não tinha família, e foi justo, vamos dizer assim, o seu suplício. Não faria sentido se Clint pulasse do penhasco em Vormir com todo o seu drama arquitetado durante a narrativa. E o filme dela já confirmado? Está confirmadíssimo, no entanto, ao que tudo indica, será ambientado no passado, o que não prejudicaria a linha temporal. Engraçado é que muitos apostavam na teoria de que o Capitão América morreria para conseguir essa joia. A Marvel enganou a todos!
 
ULTIMATO: Se a Viúva Negra ganhará um filme solo, porque não fazer um filme solo do Gavião Arqueiro como Ronin, com trama antes de “Ultimato”? Esse personagem já esteve presente nos quadrinhos, assim como Shang-Chi, o herói oriental da Marvel, que ganhará um filme em breve! Será que teremos a participação de Clint como Ronin? Seria bastante interessante.
 
ULTIMATO: A ideia de colocar o Professor Hulk foi sensacional e divertidíssima! Tudo bem que apenas em um diálogo foi resumido o modo como ele conseguiu unir a inteligência de Bruce Banner à força de Hulk. Nessa mesma solução narrativa, foi explicada a origem do Homem-Aranha em “Guerra Civil”. No entanto, essa transformação merecia ser mostrada, já que em “Ultimato” estivemos diante da melhor versão cinematográfica do gigante esmeralda. Será que agora caberia mais um filme solo do personagem, desta vez como Professor Hulk?
 
ULTIMATO: Falando em Hulk, ele foi o único que não teve uma revanche contra Thanos. Tony Starky teve seu momento dando um pau no titã louco, o Capitão América idem, e, também, o Thor, que o mata nos primeiros minutos de “Ultimato”. Só faltou o Hulk ter sua ‘vingança’. 
 
ULTIMATO: Por que a anciã não utilizou a joia do tempo para saber se o Professor Hulk estava falando a verdade? Ela simplesmente entregou a joia após muita insistência de Banner em uma conversa relativamente rasa.
 
ULTIMATO: Como a Nebulosa ‘do mal’ conseguiu trazer a nave de Thanos para o futuro, se a única partícula Pym da qual ela se apoderou (da Nebulosa ‘do bem’) já havia sido utilizada por ela para estar na base dos Vingadores? Como Thanos conseguiu ter acesso ao Reino Quântico para ser puxado pela Nebulosa ‘do mal’? Será que Falce de Ébano conseguiu criar ou replicar a partícula que dá acesso ao Reino Quântico a partir da capsula Pym de Nebulosa? Fica o mistério.
 
ULTIMATO: Gamora morre ou não? Ela não estava no funeral de Tony, não a vemos na cena em que os vilões viraram pó e nem estava na nave dos Guardiões ao final. Há uma imagem dela em uma tela sendo apreciada por Peter Quill, na qual está escrito ‘searching’  (procurando). Ela morreu ou deu uma sumida por aí? “Guardiões da Galáxia Vol. 3” deve resolver essa questão. 
 
ULTIMATO: A manopla do infinito, em "Guerra Infinita", é feita com o poder de uma estrela. Só assim ela e seu usuário (com exceções) aguentariam utilizar as joias com poderio  máximo. No filme, a nova manopla é criada com tecnologia Starky. Será que Tony Starky atingiu um nível de tecnologia que se equipara ao poder de uma estrela? Não teria sido mais consistente na trama ter feito uma nova manopla com o anão gigante em Nidavellir uma vez que o molde da mesma está intacto por lá?

ULTIMATO: Em uma das lutas mais espetaculares do filme, o Capitão América consegue erguer o Mjölnir para dar uma surra em Thanos. Sim, Steve Rogers se torna digno do martelo do Thor (e também de seus poderes) e essa cena arranca arrepios de emoção no espectador. Nas histórias em quadrinhos, outros personagens também já foram dignos do mesmo feito, envolver o Capitão, no cinema, é um baita easter egg para os fãs. O legal é que essa situação nos remete a "Vingadores: Era de Ultron". Em uma festa na torre Starky, Thor brinca com várias pessoas ao deixa-las tentar mover o martelo em cima de uma mesa. Ele diz que quem conseguir erguer poderá governar Asgard. O único que conseguiu mexer só um pouquinho, bem de leve, e que deixou o Deus do Trovão com cara de preocupação, foi o Capitão América. De qualquer forma, a explicação no cinema para uma pessoa conseguir erguer o Mjölnir não ficou tão clara. Ao revisitar o primeiro filme do Thor, analisando determinados valores e comportamentos do protagonista, até podemos achar uma possível resposta nas entrelinhas. Como Thor se tornou o Rei de Asgard, ou um novo 'Odin' para seu povo, ele teria o poder de tornar alguém digno de empunhar seu martelo? Se sim, isso explicaria o Mjölnir nas mãos de Rogers ,uma vez que o próprio Odin já retirou a dignidade de Thor e enviou seu martelo para a Terra. No entanto, ficam as dúvidas: quais são os atributos para que um indivíduo seja considerado apto a manipular o martelo? Não é somente bondade, caridade, pureza (não é mesmo, Visão?), arrependimento, reconhecimento de erros e amor no coração, não é verdade? Lembrando que Thor já matou milhares de seres cósmicos e continua sendo digno do Mjölnir.   

ULTIMATO: Nada mais emblemático do que iniciar a Saga do Infinito do universo compartilhado com Starky e finalizar com a sua morte, repleta de heroísmo e significados, que fará o público se emocionar. A morte do Tony Starky é coerente. Nos quadrinhos já aconteceu isso e ele se tornou uma inteligência artificial, como o Jarvis ou a Sexta-feira. Uma cena final gravada por Tony, por meio de um holograma, pode ser a deixa para isso. Afinal de contas, era preciso tirar Robert Downey Jr. de cena, pois mais de 1 terço do orçamento dos filmes que ele protagoniza era para pagar seu cachê. De alguma forma, seu legado será continuado por algum novo personagem.

ULTIMATO: Vi um questionamento interessante em uma matéria do site Omelete e resolvi colocá-la aqui. “Por que não usaram a joia do tempo para salvar o Homem de Ferro? Tendo em vista que Thanos a usou para impedir que a joia de Visão Fosse destruída em “Guerra Infinita”? Segue a resposta dos diretores Anthony e Joe Russo em entrevista concedida ao site chinês QQ e publicada, também, no site Omelete: “Dentre as 14 milhões de possibilidades que o Doutor Estranho viu, o sacrifício do Homem de Ferro é necessário para vencer”. Faz sentido, mas... no filme do Doutor Estranho, o mago conseguiu reverter somente a maçã comida e uma página de um poderoso livro sem ter modificado a realidade em torno desses objetos, ou seja, o que 'voltou no tempo' foi apenas o objeto. Será que isso teria sido possível para salvar apenas o Tony? Por outro lado, salvar o Starky dessa maneira poderia estar em uma das 14 milhões de derrotas. Thanos, mesmo após ter virado pó, de alguma forma retornaria no futuro para terminar execução do seu plano.  
 
ULTIMATO: Capitão América ficou encarregado de voltar no tempo e deixar as joias do infinito em seus devidos lugares (e também 'devolver' o Mjölnir). No entanto, um desses lugares seria Vormir, entregar a joia da alma para o Caveira Vermelha, seu inimigo no primeiro filme. Como seria esse encontro? O Doutor Estranho do presente ficaria sem a joia do tempo já que o artefato foi 'destruído' por Thanos? Ou, devolvendo a joia do tempo para anciã, a pedra apareceria automaticamente para o Doutor Estranho no presente?
 
ULTIMATO: “Lembra heim, você tem que devolver as joias para o momento exato em que pegamos ou vai abrir um monte de realidades alternativas doidas”, disse o Professor Hulk ao Capitão Steve Rogers. Seria uma referência a uma realidade onde existem os X-Men? Que viagem... mas seria muito legal isso.
 
ULTIMATO: Em uma das últimas cenas, Steve Rogers, já bem velhinho, dá o último salto temporal (segundo os diretores do filme) e entrega seu escudo ao Falcão e, indiretamente, o batiza como o novo Capitão América. Tudo bem, isso já aconteceu nos quadrinhos, mas Sam não tem uma super força para se equiparar com o que foi Rogers. Não seria melhor ter nomeado o Soldado Invernal, que tem esse atributo semelhante, como o novo Capitão? Lembrando que Bucky também já havia ostentado o escudo nas HQs. No entanto, é importante lembrar que, aos olhos do mundo, Bucky Barnes pode ser considerado um vilão, por todas as confusões do passado. Logo, dar a ‘patente’ a ele, nesse contexto, não soaria bem. Portanto, Falcão está ‘OK’, mas, ainda assim, prefiro o Soldado Invernal.
 
ULTIMATO: No início do filme, as joias não estão mais na manopla de Thanos devido a um novo estalo. Rocket consegue detectar essa grande explosão de energia e localiza o paradeiro do titã louco. Quando os Vingadores vão ao seu encontro, Thanos, enfraquecido com a última utilização da manopla, diz que ‘destruiu’ as joias, transformando-as em níveis de átomo. Seria possível o Homem-Formiga, por exemplo, recuperar todas essas joias no Reino Quântico? Será que essas joias serão utilizadas na nova fase da Marvel nos cinemas? 
 
Sempre haverá ligações, entre as tramas e as reviravoltas, que farão algum sentido dentro do contexto proposto pelo universo cinematográfico da Marvel. Ainda que a complexidade de tudo isso gere alguns furos, dúvidas e mistérios, em linhas gerais, a coesão é um grande trunfo. Se os defeitos não atrapalham o poder de encantamento, então estamos diante de uma diversão perfeita.
 
Embora “Vingadores: Ultimato” não tenha cenas pós-créditos, devido à ideia de fim de um ciclo, podemos considerar que essas tais ‘cenas’ ficarão em nosso imaginário, como perguntas não respondidas. Lembrando que muita coisa não mostrada pode ser proposital, para que cada espectador imagine, a sua maneira, a versão dos fatos não contados ou mostrados. Algumas pontas soltas servirão de ‘pontapé inicial’ para uma nova saga. Junto a isso surgem inúmeras teorias e ideias para se construir um novo universo compartilhado. O jeito é equilibrar nossa ansiedade e aguardar as cenas dos próximos capítulos. Ahhh, 'Viva o Rato'!